Antônio Sales de Faria

O Carpinteiro honrado que se entregou à Amazônia
(Umirim, Ceará, 1906 – S.J. do Rio Preto, São Paulo, 1993) – Militar, Servidor Público, microempresário e construtor. Mas foi como carpinteiro, praticando um dos ofícios mais antigos e nobres da humanidade, que se destacou, combinando conhecimentos técnicos e aptidões artísticas com simplicidade, honradez e abnegação, escolhendo para si a mesma profissão que Jesus exerceu há mais de dois mil anos.
Nos evangelhos, São Marcos narra que os doutores assim comentaram quando o Mestre pregou pela primeira vez na sinagoga: “Não é esse o carpinteiro?”
Homem de natureza pacifica, Antônio carregava em sua essência um sentido inato de justiça. Comenta-se que, em certa ocasião, quando desempenhava a função de ‘intendente’, duas vizinhas que moravam nas redondezas compareceram à delegacia disputando o direito de propriedade sobre uma galinha. Num lampejo de discernimento Salomônico, ele colocou o bípede embaixo do braço e pediu que elas o acompanhassem. Ao soltar a ave na linha imaginável que dividia o terreno desprovido de cerca, a penosa dirigiu-se ao poleiro habitual, dando assim por encerrada a disputa.
Com a mesma perspicácia e singularidade, cruzou o rio da vida após uma caminhada de 86 anos. Partiu deixando uma imensa saudade, restando seu gracioso e inseparável guarda-chuva, que também o abrigava nos dias sol, na modesta sala da casa que lhe serviu de ultima morada na terra.
Sua epopeia começou quando ainda menino. Seus pais, Antônio Ferreira de Farias e Francisca de Paula Sales, deixaram a querida Umirim localizada à 95 km de Fortaleza formando parte da legião de nordestinos que foram incentivados pelo famoso acordo de Washington D.C, assinado em 1943 por Getúlio Vargas e Franklin Delano Roosevelt (presidente dos Estados Unidos).
Naquela época, os aliados precisavam de borracha e a ocupação japonesa havia eliminado o fornecimento da matéria prima pelo sudeste asiático, antes da eclosão Segunda Guerra Mundial. A partir de então, ocorreu a migração em massa de nordestinos, sendo a maioria oriunda dos estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Eles chegaram a Belém para depois percorrer o interior da maior reserva biológica do planeta rumo a Santarém, Óbidos e outros lugares dos Estados do Pará, Amazonas, Acre e a região do Vale do Guaporé, dedicando-se à produção de borracha, o que possibilitou, tendo como preço a vida de milhares de patriotas anônimos que ficaram pelo caminho, o fim de um ciclo de estagnação que, por décadas, castigou impiedosamente a Amazônia.
Antônio Sales de Faria (E) e o primo Cezar Escócio de Faria
Foi no Lago Grande do Salé, precisamente no Território de Juriti, pertencente à Comarca de Óbidos, que Antônio Sales de Farias e a jovem Tertuliana Paiva formaram família, tendo sido agraciados pelos filhos Aloísio, Álvaro, Adamar e Antoniana.
Seu Sales, como gostava de ser chamado, era exaltado como paradigma de conduta ética e sua reconhecida integridade tornou-se norte e orgulho de seus descendentes. Sua biografia retrata fielmente o legado da valorosa gente amazônica, servindo como exemplo de que alguns homens galgam as alturas, superando seus contemporâneos, para alimentar incessantemente a história que servirá de referência para as gerações vindouras.
Manifestações
Antônio Osman de Sá (Advogado – Ex-Secretário Geral da OAB-RO)
São marcas imperecíveis de um destemido desbravador. Infelizmente esse tipo de homem está em extinção.
Suzan Valdez (Teacher – Houston, TX – USA)
What a great grandparent to be a descendant of! And how nice that his grandson was the one to write him up!
Paulo Cordeiro Saldanha (Advogado e Membro Fundador da Academia de Letras de Rondônia e ex-presidente do Banco do Estado de Rondônia – BERON)
Samuel, A história de seu avô precisa ser divulgada para que as gerações de agora e posteriores possam reconhecer a importância dos nordestinos na formação sócio-cultural de toda a região amazônica, quando chegar aqui era mais um, entre tantos, os desafios a superar. Ele pôde ver a abençoada família que construiu e, do alto, vê que os seus descendentes continuam a honrar a tradição pioneira que o “seu” Antônio Sales pôde praticar com idealismo e devoção de um santo. Parabéns pelo texto!
Iza Meire Sales Nunes (Funcionária Pública – Belém – PA)
Obrigada Samuel, por nos agraciar com homenagem tão especial a nosso avô. Podemos dizer que a memória de Antônio Sales de Farias está eternizada com narrativa tão bem elaborada.
Montezuma Cruz (Jornalista Editor da Agência Amazônia de Notícias em Brasília. Ex-Repórter do Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e O Globo)
A decisão a respeito da posse da galinha faz mesmo lembrar o Grande Rei Salomão, quando encerrou a disputa do filho por duas mulheres. Dele recebemos as conhecidas lições e/ou decisões “salomônicas”. Lindo relato a respeito de seu avô, Samuel. Ele foi um homem de bem. A saga desse cearense nascido em Umirim e falecido no norte paulista, tão bem narrada nesse texto, me põe a refletir a respeito da vida, do que aqui fazemos e do que deixamos. A herança maior de seu Antônio, percebe-se, são filhos e netos que hoje o reverenciam.
Wellington Sales (Corretor – Fortaleza – CE)
Segundo alguns nossa família Sales é proveniente de Portugal, vieram para o Brasil na segunda metade do século 18 e se firmaram onde é hoje Uruburetama e Umirim, no Ceará. mas eles se chamavam: Bastos, Lima e Queiroz, e adotaram o sobrenome SALES porque chegaram no dia de São Francisco de Sales. Isso é o que contam. Acho que sua bisavó tem algo a ver com Poty de Paula Sales que eu conheci já idoso e que era dono do cartório em Uruburetama que ainda hoje existe, está no Google o endereço e telefone. A família Sales tem presença forte em Itapajé, Uruburetama, Itapipoca e Umirim, uma historia muito bonita.
Fábio Cassano (Dentista – SP)
Mais uma história linda de um desbravador brasileiro, que com muito esforço e coragem participou da construção do nosso Brasil. A narrativa do nobre colega Samuel é impecável! Parabéns ao grande Seu Sales.
Izarina Pinheiro Sales da Paixão (Psicóloga Social – Santarém, PA). *Filha de Aloísio de Paiva Sales e Zuleide Pinheiro Sales
Ao ler a biografia que descreve com fidelidade a vida do nosso querido vovô Sales posso agora compreender em plenitude o alcance de sua importância para minha existência e a de meus irmãos: Pedro Antônio, Isa Regina, Izarina, Paulo (faleceu aos 11 anos no mesmo acidente do papai), Jonatas, Isa Mirtes, Iza Meire e Jaime. Lembro com nostalgia as três vezes que ele nos agraciou hospedando-se em nosso humilde lar. Aqueles dias de ilusão que o tempo dissipou com velocidade implacável enraizou a dignidade e os bons valores em nosso caráter. Sua lembrança existirá enquanto houver memória, incluindo nela o velho e gracioso guarda-chuva preto que sempre o acompanhou. Tenho a convicção que seu exemplo irreprochável de vida transformou-se em precioso legado para orgulho de seus descendentes. Só Deus sabe quanto a saudade nos maltratou a alma ao longo das décadas de ausência e quanta falta o senhor continua fazendo. Onde estiveres, meu querido e inesquecível avô, receba minha gratidão, carinho e amor eterno.
Francisco das Chagas Freitas (Membro do Ministério das Relações Exteriores – MRE)
Samuel, adorei o relato da trajetória do Seu Antônio que deu origem a você e a tantos outros de boa cepa da família Sales.
Washington D.C. EUA – Verão de 2016

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