Por Montezuma Cruz
WASHINGTON, D.C. – Numa carta à Organização Mundial de Saúde (OMS), o rondoniense Samuel Sales Saraiva sugeriu ontem (3) a elaboração de estudos visando à padronização global do currículo dos cursos de medicina, a fim de assegurar o reconhecimento da validade da formação profissional para atuação médica paritária e maior eficácia do atendimento profissional.
A OMS tem sede em Genebra, na Suíça. Na assinatura da carta ele se intitula um “terráqueo” portador das cidadanias americana e brasileira. O documento é dirigido ao presidente da OMS, Dr. Kerstin Vesna Petric, ao presidente e diretores do conselho executivo da instituição.
A percepção do problema vem sendo notada por Saraiva, legislador por vocação, há mais de três décadas, desde que se fixou nos Estados Unidos, na área Washington, D.C. Para ele, a medida proposta exigiria uma revisão plena do currículo de graduação, sem prejuízo à inclusão de disciplinas nos cursos de medicina.
Proveria a formação especializada no tratamento das doenças mais prementes em diferentes regiões do mundo, melhor conhecimento e atendimento à população carente de recursos financeiros.
“Os médicos merecem ser considerados agentes internacionais de saúde sem restrições, imprescindíveis ao bem-estar e à vida. Bem como, a população mundial merece atendimento igualitário, baseado no respeito à vida e à dignidade do ser humano”, assinala Saraiva.
Nesse aspecto, ele enfatiza que o atendimento médico deve ser nivelado pelo estágio mais elevado da tecnologia disponível, excluindo-se qualquer tipo de tratamento privilegiado, em decorrência das desigualdades socioeconômicas e étnico-raciais. “Isso não é decente, ético nem justo ao ser humano”, ressalta.
Disse acreditar que a padronização eliminaria a injusta prática de os países mais desenvolvidos privarem médicos de nações menos avançadas a uma atualização curricular, para melhor atendimento de seus povos. “Médicos formados em Cuba ou na Bolívia, por exemplo, deixariam de ser constrangidos ou discriminados pela falta de equivalência imediata de suas formações”, diz.
Lembra ainda o exemplo da situação vivida por médicos formados no Brasil e que são igualmente impedidos de atender à imensa comunidade brasileira nos EUA, formada por mais de um milhão de imigrantes, muitos indocumentados e sem seguro de saúde. Realidade que se verifica também em países europeus. “É possível antever que essa questão seria facilmente resolvida se fosse estabelecida a paridade dos currículos”, acredita.
Segundo Saraiva, numerosas comunidades de imigrantes de diferentes nacionalidades estabelecidas em diversas nações estariam “livres dos entraves burocráticos e interesses mesquinhos que se sobrepõem às questões humanitárias.”
Padronização evitaria constrangimentos e outros fatores discriminatórios a médicos brasileiros nos EUA
O jornalista reconhecido por atuação humanitária, alinha os principais pontos dessa busca de cooperação da OMS, afirmando que muitas barreiras seriam eliminadas, notadamente discrepâncias curriculares existentes entre os cursos de medicina dos países desenvolvidos e os dos países em desenvolvimento.
1) Dinamizaria o atendimento humanitário de forma irrestrita, dando-lhe prioridade sobre os sistemas político-ideológicos e barreiras geopolíticas.
2) É imperativo ampliar-se a cooperação com os países mais pobres na área da saúde, por meio de tratados que desenvolvam mecanismos impeditivos ao atropelo da medicina por impiedosos interesses financeiros das grandes indústrias farmacêuticas, tecnologia e de material médico-hospitalar.
3) Seguramente, esse importante organismo da ONU não se permitirá ser subjugado pelo poder econômico de grupos multibilionários que geralmente não se interessam pela população carente. Creio que, havendo vontade política, a proposta poderá ser examinada à luz da razão e revelará méritos que justifiquem ser encampada pela OMS, que tem ampla representatividade e a responsabilidade de buscar soluções, a partir da previsão das necessidades que as próximas décadas trarão.
4) Isso ocorreria com o devido respeito aos diferentes sistemas de saúde de cada nação. A nova geração de médicos capacitados com currículo acadêmico universal estaria preparada para atuar em diferentes regiões geográficas do planeta, pois contaria também com capacitação adicional centrada no conhecimento das questões sanitárias particulares de cada país.
5) O custo econômico da padronização mundial dos cursos de medicina justifica-se pelas vantagens de sua instalação, sobretudo quanto à eliminação de fronteiras para a atuação médica, com o objetivo de salvar vidas humanas com maior celeridade e eficiência, conforme a tão nobre missão dos profissionais de saúde.
6) A padronização curricular mundial seria também uma resposta às distorções na formação médica, cada vez mais evidentes. Dos múltiplos benefícios que poderiam decorrer da paridade de conhecimento entre médicos formados em países dessemelhantes, a exemplo do Afeganistão, Brasil, Índia, China e EUA, estaria a facilitação do encaminhamento de pacientes aos exames necessários, especialmente os mais sofisticados.
7) O conhecimento da tecnologia de ponta e ela própria são cada vez mais cobrados pelas sociedades mundiais, o que de forma direta interessa às poderosas indústrias farmacêutica e médico-hospitalar. O projeto de padronização do ensino médico mundial poderá diminuir as diferenças abismais que hoje existem entre profissionais dos diferentes países; trata-se de um projeto estrutural, de caráter estratégico e longa maturação, cujo avanço depende sobremaneira do engajamento da mídia internacional, capaz de fazer prevalecer a consciência de que a prioridade no atendimento à saúde humana pode ser harmonizada com os interesses corporativos.
8) A padronização buscaria incorporar no modelo único a ser adotado os avanços vigentes nos cursos de medicina oferecidos nos países mais desenvolvidos. Em decorrência natural, milhares de jovens médicos que atuam nos países pobres receberiam uma formação aprimorada, benéfica a parcela significativa da humanidade que precisa de melhor assistência e menos entraves burocráticos decorrentes de políticas contraproducentes, desprovidas de empatia e respeito ao ser humano.
9) A parcela majoritária da humanidade aguarda essa evolução natural, cujo debate deve ser iniciado agora para que comecemos a nos preparar com vistas a outras fases da globalização, de forma justa e solidária. Em vez do desânimo precoce dos céticos de plantão, que lideram organizações classistas, devemos enxergar os aspectos positivos da proposição, que levaria à excelência a formação médica nos países em desenvolvimento. Um médico formado no Brasil, por exemplo, receberia a mesma formação de um médico alemão, inglês, japonês ou americano. Aqueles que desejassem se estabelecer em algum país desenvolvido não precisariam mais cursar vários anos para revalidação do curso feito no seu país de origem.
10) O mundo precisa de líderes e cidadãos visionários, dispostos a circunscrever divergências e promover convergências para a implantação de propostas factíveis que permitam atender às necessidades da população mundial. O fato é que o processo de globalização caminha lento pelas dificuldades impostas por sectarismos ineficazes, sobretudo de natureza político-ideológica, porém é algo necessário e inevitável. Queiramos ou não, a evolução tecnológica não para, e a demanda por atendimento igualitário é legítima, de caráter permanente, justa e inadiável.
11) É tempo de reflexão e ação, com o objetivo de estimular a necessária mudança de paradigma para o bem-estar de todos os seres sencientes do planeta. Serão necessários: o engajamento da grande mídia formadora de opinião, campanhas informativas e um plano de ação a nível global desenvolvido pela comunidade de nações. O atual modelo de distribuição da educação médica precisa ser repensado e reformulado para adequar-se à nova realidade planetária. A reformulação e a distribuição justa do ensino médico, aprimorando os sistemas de saúde pública em escala global, beneficiará as populações carentes, tratadas com visível desigualdade em relação aos países desenvolvidos.
12)
Os avanços da ciência devem ser compartilhados entre todos os povos para que a dignidade e o bem-estar das pessoas se sobreponham aos interesses econômicos que interferem prejudicialmente nos sistemas de saúde em todo o mundo, evidenciando o atropelo dos valores democráticos pelo objetivo de maximizar os lucros, aplicando o pesado ônus aos cidadãos mais vulneráveis.
13) O conhecimento e as novas tecnologias devem chegar a toda população da Terra, para que se construa um mundo mais igualitário e justo, conforme preconiza a presente proposta. Não parece ético que, enquanto em alguns países a medicina começa a se beneficiar da inteligência artificial, em outros países a formação e o atendimento médicos continuem precários, distanciados por um imenso abismo entre as nações, que demandam uma base global de conhecimento compartilhada para benefício de toda comunidade internacional, pois estamos todos no mesmo barco navegando no oceano das dificuldades.
14) Os avanços da ciência devem ser considerados como avanços da própria civilização, não um privilégio de poucas nações. Pela proposição ora apresentada e sua fundamentação de natureza prática, histórica e ética, com vistas à preparação para o futuro, peço encarecidamente o seu exame com a seriedade e racionalidade que a questão requer, assim como a promoção de ampla consulta aos países membros dessa Organização e sirvo-me do ensejo para apresentar antecipadamente meus sinceros agradecimentos à OMS, essa tão importante organização multilateral, por sua eventual manifestação, finalizou.
Opinião:
Apesar de atribuída a Hipócrates, pelos primeiros estudos relacionados à doenças e seus sintomas, a medicina existe desde o início dos tempos, quando era misturada com crenças e magias.
De lá pra cá a medicina vem se desenvolvendo tal como a evolução da humanidade, trazendo consigo a contribuição importante de vários povos antigos, como egípcios, hindus, hebreus, etc..
A partir do século XX, com o advento da tecnologia, esse avanço foi drasticamente acelerado: equipamentos, técnicas, máquinas, novos segmentos dentro da medicina surgiram e surgem a cada instante, proporcionando a rapidez de diagnósticos e seus respectivos tratamentos.
O avanço da tecnologia mudou não só a medicina como mudou o mundo e o comportamento do indivíduo, porém infelizmente essa mudança ainda não chegou a uma parcela significativa da população mundial, cidades com IDH inconcebíveis.
A padronização curricular da medicina é uma proposta ousada e inspiradora, que traria uma grande contribuição para a melhoria da qualidade de vida da humanidade, principalmente para a população menos privilegiada, porém em decorrência de fatos que ocorrem a cada instante, quando somos subjugados a líderes mundiais, políticos e indústrias farmacêuticas inescrupulosos, podemos imaginar o quão distante essa ideia está da nossa realidade. Enquanto a tecnologia caminha em velocidade estratosférica, aqueles que podem facilitar e colaborar com o bem estar do indivíduo, apenas enxergam os seus lucros.
Para que um passo como esse se concretize se fará necessário um grande esforço, mas para tudo existe um começo e ele já existe. Temos uma ideia, uma proposta, uma solicitação e uma discussão. Sigamos adiante!”
Luciano Passos Cruz – 15/05/2023
Médico- Brasil
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