O homem é o Criador da criatura que concebeu no plano mental a sua imagem e semelhança e chamou de “Deus”

Numa interpretação factual da teoria do criacionismo, Deus é um mito inventado pelo homem, para sentir-se amparado no Universo e ter suas carências e necessidades supridas no plano mental, surrealista. É uma invenção que, fomentadora de fanatismos e extremismo religioso, desde os primórdios de sua concepção, agride a própria essência humana de liberdade e convivência harmônica, causando destruição, miséria, atraso, e, sobretudo, servido como poderoso instrumento de alienação mental. Mas a loucura delirante da raça humana não parou por aí, em todas as regiões e culturas do planeta os próprios homens endeusaram outros, criando o que chamaram de religiões, transformando extremistas violentos e sexistas em símbolos de amor e salvação, numa absurda distorção da realidade.

Desde que o homem fecunda em sua imaginação o nocivo mito que chamou de deus, ao longo das civilizações essa invenção tem sido usada para criar a sensação de proteção e alto-conforto, e fachada para que almas atrasadas mascarem o instinto destruidor e perverso inato à natureza humana, ocasionando a morte de milhões de seres humanos inocentes de todas as idades. Criou-se a cultura do medo, do terrorismo psicológico a esse ser superior imaginário, que mescla crueldade, justiça, amor e terror, à imagem e semelhança do próprio homem, seu criador. Até hoje, pessoas crédulas e amedrontadas não ousam desconstruir esse mito com a razão que as aprisiona, a mente bloqueada para o exercício livre da liberdade de pensamento, sobrepondo-se a poderosa lavagem cerebral da qual foram vítimas na tenra infância. A palavra “Deus” tornou-se mero hábito linguístico, evocado em situações de fragilidade ou dificuldade de qualquer natureza, requerendo intervenção de socorro “divino”, alimentado pela bizarra fé. Enquanto hipotecam credibilidade ao improvável, caminham para substituírem reciprocamente, desperdiçando a curta e preciosa existência terrena, pagando “impostos celestiais” a intermediários inescrupulosos, que vendem ilusões com a cumplicidade de governantes corruptos, conquistada em troca de apoio político. Milhões no passado e no presente morreram, morrem e haverão de morrer,  iludidos e em situações de agonia, clamando em vão por amparo celestial ou extradimensional, obviamente sem serem escutados ou salvos.

Assim surgiu e fortaleceu-se a poderosa ‘indústria da fé’, um comércio crescente alimentado pela credulidade no improvável e a acomodação mental. Essa ignorância não excetua culturas ou sociedades, que, atrasadas ou avançadas, mantém indefinidamente aprisionadas mentes capituladas ante uma sensação surreal e constante de medo, o qual a fértil imaginação transformou em verdade, promovendo o absurdo atraso milenar que castiga a parcela majoritária da população mundial. 

Talvez num futuro não muito distante Estados-Nações protejam suas crianças da doutrinação religiosa forçada, banindo o conteúdo enganoso desprovido de bases reais sustentáveis, enquanto inserem na gama curricular da educação elementar cursos objetivando esclarecer os estudantes sobre a diferença entre imaginação e realidade, ficção e fato. É obrigação do poder público de toda nação proteger seus cidadãos de ações amorais e extorsivas praticadas por indivíduos e grupos que, em nome da fé, vivem de forma extravagante e contrastante com a condição de miséria crônica das multidões exploradas e extorquidas por meio de doutrinas falsas e mirabolantes, desprovidas de qualquer sustentação razoável, simplesmente inaceitável sob a ótica da decência e da moralidade. Alguns desses “espertos”, formados na pseudociência acadêmica chamada teologia, têm a consciência de que não passam de vendilhões de ilusões e promessas enganosas, mas seguem nesse mercado por conveniência. Outros, menos instruídos ou leigos, são treinados e usados para recrutar “almas” e, desconhecendo a falta de ética de pregar inverdades, abusam criminosamente da liberdade de culto, com a motivação ilusória de estarem agradando ao deus imaginário para obterem uma nova vida no plano espiritual, com fartura de frutas, homens alados passeando em jardins, em volta de um ser todo-poderoso com cara de bondade, sentado em um trono de ouro. Algo simplesmente ridículo e surreal, sobretudo, FAKE e criminoso que tem esperado urgentemente ser coibido e banido por uma legislação coercitiva. Esses criminosos precisam ser presos em vez de beneficiados pelo Estado com privilégios descabidos, por exemplo: prisão em regime especial, isenção de impostos ou condecorações de Estado, passaportes diplomáticos, ou distinções outorgadas ilegitimamente por agentes do poder público, corruptos e cúmplices dessa desfaçatez inaceitável em pleno século XXI. 

O exercício honesto da liberdade de expressão, em particular o que promova a evolução da consciência humana para tirá-la do estado de letargia, é um direito legítimo, bem-vindo e necessário, mesmo contrariando interesses de charlatões e seus simpatizantes cegos pelo obscurantismo religioso. O fato é que, a exteriorização da bondade humana não depende de ter ou não fé, ou de vínculo religioso, apenas da vontade para praticar a solidariedade, sem avareza.

‘Todo direito tem limites’, ensina o constitucionalista Paulo Guedes Fontes, mesmo os direitos fundamentais. Nenhum direito é absoluto. Somos livres para fazer o que quisermos, desde que não prejudiquemos, ou tiremos vantagens imorais abusando da crendice de outros para obter lucro material imediato, em troca de promessas de bens a serem entregues após a morte, em um hipotético e improvável plano espiritual. A moeda de troca, nesse caso, deve ser espiritual, não material. As fronteiras entre os direitos e o que pode ou não ser considerado prejuízo para os outros variam, evoluem e se desdobram numa miríade de outros direitos, incluindo a liberdade religiosa. É difícil impor limites. Mas os limites existem e começam pela observância da ética na propagação de teorias que geram amedrontamento coletivo, prejudicando em particular as crianças na idade mais importante para formatação e assimilação dos princípios. A verdade não deve ser apresentada como única, por não ser absoluta. É imperativo ser oferecida a elas as ferramentas que permitam discernir entre o mundo real e as crenças sobre especulações desprovidas de razoabilidade. O cidadão precisa ser protegido por lei do agressivo e ganancioso expansionismo religioso a custas de contos imaginados que apregoam como verdade única, gerando confusão, ilusão, alienação mental e intelectual.

Nota do autor: O artigo reflete uma visão pessoal de mundo, de forma respeitosa e doutrinariamente despretensiosa, objetivando incentivar a reflexão sobre a preocupante realidade que dificulta o exercício livre do pensamento, sem sentimento de culpa de estar “pecando”, ou influência de qualquer contaminação de natureza filosófica, ideológica ou religiosa.

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