ENGLISH / PORTUGUES / ESPANOL

There is a truth that only a few dare to face — a truth that, though uncomfortable, becomes liberating: no supernatural force descends to straighten injustices, halt cruelty, or extinguish the loneliness that drifts through the world. The divine, if it exists at all, wanders somewhere in an ethereal, distant realm — like a recurring dream that never quite takes form. Reality, however, is made of another substance: it pulses in lives that suffer, in destinies that scatter like dust in the wind, in pains that do not heed supplication.
And, paradoxically, it is upon this barren ground that human beings uncover their hidden greatness. They discover that the only true refuge rises from within, from the silent act of standing up after every fall, from the intimate courage required to rebuild oneself with no witnesses. With a lucidity earned through experience, one comes to understand that much of our suffering — that quiet ache weighing on the soul like lead — springs from the illusions we weave, from the desires we inflate but never fulfill, from the hope we deposit — with disarming naivety — into shallow spirits, into emotionally impoverished people incapable of offering what we project onto them. We suffer, often, not because of what the world is, but because of what our immature, romanticized reading insists on inventing.
There are those who remain prisoners of this emotional blindness: spirits who, lacking a mind illuminated by reason, cannot free themselves from an exaggerated, unruly, illogical sentimentalism — a whirlpool of emotions that builds nothing and consumes everything. They are souls that bleed inwardly, simply because they have not yet learned to think with clarity nor feel with equilibrium.
Yet there are others who choose a different path. Beings who refuse to feed the shadows and who shape, with gentle firmness, a higher, calmer, more luminous gaze. A gaze capable of recognizing the beauty hidden within imperfections, capable of finding meaning where others see only chaos. It is within this quiet labor — this refinement of mind and heart — that the only possible peace is born: not a peace granted by the heavens, but one conquered by the awakened spirit.
The fullness of the outer world does not impose itself from beyond; it germinates within us, in the vast and solemn palace of consciousness. It adapts to our ability to interpret life, to bear it with dignity, to recreate it with hope, and, above all, to savor it with impassioned gratitude. For existence, when touched by a loving and realistic gaze, returns in beauty all that we offer it in courage — and the soul, at last, expands like one who discovers that the sun they sought in the heavens had always been shining within.
___________________________________
Contemplações Introspectivas
Há uma verdade que raros têm coragem de mirar de frente — uma verdade que, embora incômoda, liberta: nenhuma força sobrenatural desce para corrigir injustiças, deter a crueldade ou apagar o desamparo que atravessa o mundo. O divino, se existe, vagueia num plano etéreo, distante, como um sonho que se repete, mas jamais se materializa. A realidade, porém, é de outra matéria: pulsa em vidas que padecem, em destinos que se desfazem no vento, em dores que não reconhecem súplicas.
E, paradoxalmente, é nesse solo árido que o ser humano encontra sua grandeza secreta. Descobre que o único amparo verdadeiro nasce do próprio peito, do gesto silencioso de quem se ergue após cada queda, da coragem íntima de reconstruir-se sem testemunhas. Com lucidez amadurecida, compreende que boa parte do sofrimento — essa dor discreta que pesa como chumbo na alma — brota das ilusões que tecemos, dos desejos que inflamos e não realizamos, da esperança que depositamos, em almas rasas, com ingenuidade, em pessoas emocionalmente empobrecidas, incapazes de oferecer aquilo que projetamos nelas. Sofremos, muitas vezes, não pelo que o mundo é, mas pelo que nossa leitura imatura e romantizada insiste em inventar.
Há quem permaneça prisioneiro dessa cegueira afetiva: espíritos que, por falta de uma mente iluminada pela razão, não conseguem libertar-se de um sentimentalismo exagerado, desordenado, ilógico — um turbilhão de emoções que não edifica, apenas consome. São almas que sangram por dentro por não terem aprendido ainda a pensar com clareza e sentir com equilíbrio.
No entanto, há também aqueles que escolhem outra via. Seres que se recusam a alimentar sombras e que moldam, com suavidade firme, um olhar mais alto, sereno, luminoso. Um olhar que reconhece a beleza escondida nas imperfeições, que encontra sentido onde outros veem caos. É nesse labor silencioso — um refinamento do pensamento e do coração — que nasce a única paz possível: não uma paz concedida pelos céus, mas uma paz conquistada pelo espírito desperto.
A plenitude do mundo exterior não se impõe de fora; ela germina dentro de nós, no vasto e solene palácio da consciência. Ajusta-se à nossa capacidade de interpretar a vida, suportá-la com nobreza, recriá-la com esperança e, sobretudo, desfrutá-la com gratidão apaixonada. Porque a existência, quando tocada por um olhar amoroso e realista, retribui em beleza tudo aquilo que lhe entregamos em coragem — e a alma, enfim, se expande como quem descobre que sempre teve, dentro de si, o sol que buscava com os olhos voltados ao firmamento.
__________________________________
Contemplaciones Introspectivas
Hay una verdad que pocos se animan a mirar de frente —una verdad que, aunque molesta, termina siendo liberadora—: ninguna fuerza sobrenatural baja para enderezar injusticias, frenar la crueldad o aliviar el desamparo que atraviesa al mundo. Lo divino, si es que existe, se queda lejos, suspendido en algún plano etéreo, como un sueño que vuelve pero nunca acaba de encarnar. La realidad, en cambio, es otra cosa: late en vidas que sufren, en destinos que se deshacen como arena entre los dedos, en dolores que no escuchan ruegos.
Y, paradójicamente, es en ese suelo áspero donde el ser humano descubre su grandeza secreta. Entiende que el único amparo verdadero nace de uno mismo, de ese gesto silencioso de levantarse después de cada caída, de la valentía de reconstruirse sin que nadie mire. Con una lucidez que llega con los años, comprende que gran parte del sufrimiento —esa pena muda que pesa como plomo en el alma— brota de las ilusiones que fabricamos, de los deseos que inflamos y nunca realizamos, de la esperanza que dejamos en manos de personas emocionalmente pobres, incapaces de darnos lo que imaginamos. Sufrimos más por lo que inventamos que por lo que realmente es.
Hay quienes quedan atrapados en esa ceguera afectiva: almas que, por falta de una mente iluminada por la razón, no logran soltarse de un sentimentalismo exagerado, desbordado, sin lógica —un torbellino que no construye nada, solo desgasta. Son espíritus que sangran por dentro porque todavía no aprendieron a pensar con claridad ni a sentir con equilibrio.
Pero también están los otros: los que eligen otro camino. Los que se niegan a alimentar sombras y entrenan una mirada más serena, más alta, más luminosa. Una mirada capaz de encontrar belleza en las imperfecciones, sentido donde otros ven caos. Y es en ese trabajo íntimo —ese pulido de la mente y del corazón— donde nace la única paz posible: no la que cae del cielo, sino la que se conquista con el despertar del espíritu.
La plenitud del mundo exterior no viene de afuera; germina adentro, en ese palacio silencioso y solemne que es la conciencia. Se acomoda a nuestra forma de interpretar la vida, de sostenerla con dignidad, de recrearla con esperanza y, sobre todo, de disfrutarla con una gratitud que abriga. Porque la existencia, cuando la miramos con amor y realismo, devuelve en belleza todo lo que le entregamos en forma de coraje —y el alma, por fin, se expande como quien descubre que siempre llevó dentro el sol que buscaba allá arriba, perdido en el cielo.
Samuel Sales Saraiva
Washington, D.C.Area — 11/26/2025
