Deputado Isaac Newton escreve a Saraiva

Estimado Samuel Saraiva,

Refiro-me a “Proposta defende a adoção de disciplina específica na grade curricular, desde os primeiros anos de estudo até a conclusão do ensino médio, a fim de despertar na criança e no adolescente o interesse na preservação do meio-ambiente e o compromisso com princípios morais essenciais à existência humana, capacitando-os na identificação e solução de conflitos sem o uso de violência, promovendo assim uma educação voltada para a ética, à cidadania e à paz”.

Os méritos de sua preocupação com as questões latentes da nacionalidade brasileira, mesmo distante da Pátria amada, estarão sempre aquém das possibilidades de despertar o interesse ou o engajamento da Sociedade e do Estado.

Você pode constatar isso no insignificante número de adesões à sua “Petição” à Presidente Dilma, buscando promover o debate sobre essa racional proposta educativa como base para a solução dos sérios problemas que comprometem o presente e ameaçam o futuro de toda nação.

Infelizmente essa é a realidade, meu caro. Sugiro que se aliene dos problemas que afligem os brasileiros em seu próprio País e desfrute as benesses do chamado Primeiro Mundo em que você vive com sucesso, “voando baixo” em seu Porshe conversível sem riscos de sofrer assaltos, seqüestros relâmpagos, “saidinhas” de Banco. Sem ter de olhar sobre o ombro com receio constante de que o perigo se materialize para você. É esse o quadro que nos aflige diariamente, inclusive quando nos aproximamos da residência e temos de abrir garagem até em cidades menores como Porto Velho.

Aqui, parodiando o Chico Buarque, “Tem muita praia, rock’nroll, e futebol”, carnaval, e samba do crioulo doido, corrupção crônica e impunidade em todos os níveis do Poder Público e em todas as camadas sociais.

Tenho acompanhado as propostas que há sugerido e entre elas recordo sua preocupação com a “Fiscalização Externa do Judiciário” no formato eficaz do sistema Americano (“Probers”, significando quem mete o dedo para investigar o que de fato há,como braço do Senado e do Ministério da Justiça), que você encaminhou ao então presidente da CCJ do Senado, o Sen. Bernardo Cabral, e resultou no Estudo Legislativo No. 196, de 29 de julho de 1997 – SF. Ou seja meu dileto Saraiva, há 14 anos atrás já vislumbrava a crise que hoje abala nosso sistema judicial e alertava publicamente nossas autoridades.

Essa sua proposta, acompanhada de estudo, precedeu o discurso do ex-Presdente Lula, quando este finalmente atentou para a importância de tal questão em 1998.

Hoje, no conflito intestino do Poder Judiciário, que estarrece a Nação quando associações de magistrados pretendem colocar seus membros acima do bem e do mal, impedindo que os meritíssimos (ou seriam meritríssimos?) sejam fiscalizados, vejo que a realidade que nos confronta confirma que sua proposta ao Senado brasileiro era o melhor mecanismo de defesa da moralidade e da ética desse Poder da República, não era um sonho, um ato de mero visionário.

É inacreditável que esse grupo de servidores do povo se valha do PODER que lhe é atribuído meramente para que sirva com independência, segundo o direito, cujo conteúdo principal, além da forma, é a moralidade e a ética, para amordaçar a Presidente do Conselho Nacional de Justiça, impedindo que ela, a destemida Ministra Eliane Calmon, cumpra seu papel de fiscalizar. Essa gente tem a esconder o quê? Ora, velho adágio entre nós diz que “Quem não deve não teme”.

A Ministra Eliane Calmon realiza o trabalho que o Legislador previu ao criar o CNJ. Bloquear ou de alguma forma lhe frustrar a ação significa apenas isso: IMPUNIDADE TOTAL PARA OS MEMBROS DO PODER JUDICIÁRIO.

Que há bandidos togados entre eles, como ela ressaltou, não há qualquer dúvida, haja vista o número de juízes defenestrados, de que o Dr. Rocha Matos, José Isaac Bírer e Nicolau são exemplos, um de cada tribunal diferente.

Sua proposta de constituição de um corpo fiscalizador independente, de fora do Poder Judiciário, eliminaria a ação que os “probos” magistrados desenvolvem para se blindarem. Esses ficais poderiam até ser elementos das FF.AA, de major a Coronel, por períodos de quatro anos, sem ônus de novos empregos e sem que houvesse risco de criarem-se vícios. O cargo seria considerado de relevância para promoção na Carreira.

Esqueça isso aqui, Samuel, e aproveite melhor seu tempo. A maioria dos brasileiros só se preocupa com o “bolsa família”, auxílio carcerário e semelhantes, senão vejamos as estatísticas:

Dois milhões e meio na marcha dos que lutam pelo direito de levar “fumo” irrestrito e sem críticas… 2.500 na marcha dos que protestam contra a impunidade, contra a corrupção, contra o roubo do dinheiro público, ou seja, dinheiro do POVO, gente que pretende justamente o oposto dos que desfilam pela causa GAY.

O Brasil terminou o mundial de futebol na África do Sul entre os 8 melhores e todos se entristeceram, se sentiram diminuídos com a perda de status futebolístico.

No entanto ocupamos o primeiro triste lugar no “ranking” mundial de homicídios — conforme dados da ONU —, de par coma 85ª. posição em educação, e ninguém faz uma petição pública pleiteando atacar as causas do problema, como sugerido na proposta que você apresentou gratuitamente, movido pela consciencia do exercícioda cidadania. Isso é motivo para luto fechado, mas ninguém se manifesta, ou quase ninguém.

Muito menos ainda, alguém se digna de apoiá-la, assinando embaixo, por pura indiferença a essa realidade que é muito mais grave, não fosse a maquiagem de números para melhorar a imagem brasileira perante o mundo, como esta semana mostraram as TVs com o registro de homicídios em S.Paulo, quando ficaram de fora até os casos mais badalados na mídia.

Tal indiferença sacrifica nossas crianças e nossos jovens, muitos sem merenda escolar ou estudando embaixo de árvores com a barriga vazia, depois de percorrerem quilometros a pé ou remando, o que implica sacrificar o futuro do País.

O sucesso do Império Otomano teve um de seus pilares num grupo militar da mais alta eficiência, os JANÍZEROS, geralmente filhos de povos cristãos dominados, que eram treinados e doutrinados desde a infância. Eram a elite do Sultão, os mais eficientes e os mais destemidos.

Hitler criou a “Hitlerjügend”, a Juventude Nazista, e com a ela a Sturmabteilung, que significa Pelotão Tempestade, que arrebentava onde outros hesitavam.

Esses líderes sabiam que os jovens, por seu destemor, sentido de imortalidade e impulso de conquista onde os mais velhos falham, era a chave para a excelência e o triunfo.

Moisés passou quarenta anos no deserto para livrar-se dos elementos que viveram a escravidão egípcia de quatro séculos e, por isso, lhes faltava a fé, a fortaleza de espírito, para superar os grandes obstáculos na rota para a Terra Prometida.

Dos que deixaram o cativeiro egípcio com mais de 20 anos, apenas dois, Josué e Caleb, que se tornaram generais, sendo o primeiro o Comandante da conquista final, entraram na Palestina.

Moisés compreendeu, ou lhe foi soprado pelo Espírito divino, que com gente viciada, de maus hábitos, é impossível construir uma nação poderosa. Menos ainda se pode construir um país decente com um Judiciário ineficiente, corrupto, sem fiscalização que os iniba.

Portanto, Samuel, sua sugestão de incutir nas crianças os princípios de decência, amor à pátria, o respeito ao próximo, ao direito e ao dever, é fundamental, é muito relevante. Pena que a semente caia em terra sáfara ou cheia de espinhos sufocantes.

Colocar polícia nas ruas por si só não resolve, até porque os policiais chegam com a cultura errada prevalente no País, a mesma cultura que a magistratura brasileira quer consagrar ao IMPEDIR QUE SEJA FISCALIZADA.

É sintomático que 45% dos juízes brasileiros, segundo divulgado no YouTube, não tenham feito a Declaração de Imposto de Renda em 2009/2010, quando nenhum funcionário público, nenhum empregado na economia privada deixa de fazê-lo.

Enquanto um trabalhador nos EUA ganha em média US 3000 (o salário mínimo oficial é de usd $15.080 anuais, o que dá 1.256,66 mensais, equivalentes a R$2.236,85, ao câmbio de R$1,78, aqui esse trabalhador se contenta com míseros R$545,00, o que dá usd $306,18, à mesma taxa de 1,78. Nada obstante, os demagogos acham que caminhamos a passos largos para alcançar o padrão de vida europeu.

Só para se ter uma idéia, o salário mínimo francês, país latino, é de 1.337,70 euros, o que corresponde R$2.942,94 ao câmbio de 2,20.

Esqueça, amigo Saraiva, e desfrute as benesses que lhe oferece esse pais que generosamente o acolheu. Ainda que você fosse deputado federal aqui, não conseguiria mais do que fazer discursos. Quem manda no Legislativo é um pequeno Grupo que detém a maioria dos votos. Os demais parlamentares só servem para dar número.

Para melhorar o País, além da educação das crianças, fundamental, como você sugere (veja-se o exemplo do Japão e, depois, da Coréia do Sul), é preciso acabar com a burocracia do Judiciário, reduzir drasticamente o número demembros do Legislativo, e fazer o controle do Judiciário, controle externo, nos moldes que você em tão boa hora sugeriu.

Aí nos EE.UU. há governadores cumprindo penas pesadas. De fato, ex-governador Rod Blagojevich pegou 14 canos de reclusão, devendo cumprir em regime fechado pelos menos 85% da pena, que seriam 12 anos, por crimes de corrupção, dentre eles ter aceitado 1,5 milhão de dólares de simpatizantes do Jesse Jackson, para que fosse nomeado para a vaga do Barack Obama. Seu antecessor, George Ryan, também foi condenado a 6 anos e 6 meses de prisão por crime semelhante. Rod ainda terá a companhia de Ryan por algum tempo.

Portanto, enganou-se Ruy Barbosa quando disse que as instituições brasileiras são de todo ponto de vista iguais às americanas. Aí onde você vive, Samuel, político não tem foro privilegiado. Mais ainda, vai para a cadeia.

Na Califórnia, há um deputado federal cumprindo pena de 8 anos porque recebeu presentes milionários de construtoras. Imagine se a moda pegaaqui no Brasil…. haja cadeia! Há também a atual prefeita de Baltimore, condenado por roubar verbas públicas. E aqui, Samuel?

Você se lembra do Severino (Joe Soares), o paraibano exilado em França, que queria voltar, mas hesitava quando colhia notícias da terrinha?

Pois é, faça como o Severino: não volte nem se preocupe mais com as questões brasileiras, porque a correção das distorções, iniciadas quando os portugueses deixaram aqui alguns ladrões que se multiplicaram e prosperam muito, é tarefa para séculos, coisa para um Matusalém aguardar.

Fica em paz e com Deus, que aí você está bem melhor, distante de tudo, podendo, inclusive, isolar-se das preocupações que deixou para trás quando emigrou em busca de dias melhores. A menos que você seja masoquista.

INPessoa