A Jornada Admirável de uma Mulher Bondosa
Nascida em 1929, na cidade de Venda Nova do Imigrante (ES), a agricultora Edília Sossai Falchetto despediu-se deste mundo no dia 1º de junho. Teve embolia pulmonar e, em suas últimas horas, na localidade de Bananeiras, mas quis o destino que o último suspiro acontecesse nos braços das filhas Suzana, Juliana e seu leal companheiro Benjamim Falchetto.
Seu legado perpetuou a inabalável consciência de gratidão à pátria que lhe serviu de berço.
Filha de João Sossai (1894-1952) e Luiza Altoé (1895-1973), dona Edília (a querida nona) concluiu a missão existencial no plano físico e, com o companheiro Benjamim encarnou a simplicidade, sempre irmanados ao trabalho e à justiça.
Com o adeus da matriarca aos 89 anos, a história da Imigração Italiana no Brasil fecha mais um capítulo, entre tantos outros que consolidaram a presença desses destemidos trabalhadores vindos daquele país europeu, e de seus descendentes, que souberam honrá-los.
Edília deu à luz 15 filhos, façanha das mães e avós dos séculos XIX e XX.
Precisamente, no ano de 1890, antecipando-se aos tempos conturbados que mergulhariam a Europa em sombras, seus ascendentes, que imigraram desde Treviso, norte da Itália para a então inóspita região sul do estado do Espírito Santo.
A imigração italiana no Brasil teve como ápice o período entre 1880 e 1930. Ítalo-brasileiros se radicaram principalmente pelos estados do Sul e do Sudeste do nosso País.
Não havia tempo ruim para essa senhora. O dia amanhecia, e ela já estava no batente, personificando a dignidade daquele laborioso povo com mais 22 milhões de cidadãos brasileiros com ancestralidade italiana, com uma expressiva e qualitativa representação no Parlamento brasileiro. Juntos representam mais de 10% da população conforme dados divulgados pela embaixada italiana no Brasil.
Como fruto do sacrifício, dona Edília e seu Benjamim construíram rústicas moradas no alto das montanhas, impondo o desafio de serem cultivadas.
Vivendo com abnegação, trabalho, fé e amor ao próximo, ela ajudou transformar com as próprias mãos aqueles morros isolados e íngremes no maior polo produtor de café do Brasil.
Contrariava, dessa maneira, o ceticismo daqueles descrentes em que a atividade agrícola poderia dar certo. Sua persistência e a de sua família junto com outros destemidos imigrantes lograram desenvolver a região, com extenuante exercício de abnegação, suor e muita fé.
Tudo o que essa senhora fez orgulhou a família e norteou com luz os caminhos que as gerações vindouras haverão de percorrer.
Benjamim Falchetto casou-se e passou a ombrear-se com ela em três de novembro de 1949. Agricultor, político, historiador, músico e professor, ele é filho de Antônio Beniamino Falchetto (1835) e de Anna Luiza Zandonadi (1835).
Flores levadas à missa lembrando os filhos, Ana Maria, Luzia, Chica, Valria e Fabricio, ausentes em um dia das mães
Foi Primeira Dama do Município de Conceição do Castelo (ES), de 1977 a 1981, com a eleição de Benjamim à Prefeitura.
A agricultora Edília, Católica Apostólica Romana, filiou-se ao Partido Trabalhista Cristão (PTC) em 19 de maio de 1989, acreditando que a Doutrina Cristã poderia fomentar mais ética e justiça social na elaboração de políticas públicas.
Como os rios que nascem nos picos das montanhas para alcançarem o oceano, dona Edília desempenhou sua sina como mãe, avó, religiosa, ativista comunitária e defensora ambiental, contribuindo inegavelmente para o desenvolvimento de Conceição do Castelo e posteriormente a Venda Nova do Imigrante, hoje próspero município com elevada renda per capita.
Deixou às gerações futuras aos descendentes e a seu povo capixaba um legado exemplar de religiosidade, austeridade, dignidade, bondade, abnegação e honradez que caracterizaram a passagem de mulheres católicas virtuosas como Madre Paulina (1865-1942), Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), Irmã Dulce (1914-1992), Irmã Dorothy Stang (1932-2005), entre outras que com obras dignificantes transformaram caridade, desprendimento e simplicidade nos degraus da própria evolução espiritual.
A participação nas festividades religiosas ou culturais em todo município sempre abrilhantou a sua vida na Comunidade. Dona Edília soube dar prioridade aos interesses coletivos em detrimento dos interesses pessoais.
Com relevante atuação, ela conciliou plenamente a vida privada com a pública, sem prejuízo das atividades sociais e voluntárias para as quais o tempo não se limitava a poucas horas quando se tratava do exercício da solidariedade aos colonos menos favorecidos.
Propagou o ensinamento que incorpora as ferramentas da honestidade e do amor ao próximo, e assim encontrou caminho seguro para a amenização da pobreza alderredor e criação de mais oportunidades de trabalho nos níveis permitidos por suas escassas possibilidades, deixando em suas pegadas por essa dimensão uma imensa saudade naqueles que tiveram o privilégio de seu convívio. 05/06/2018
Fonte: Senado Federal do Brasil