A desprezível inconstância que dificulta as relações humanas

Ilustração: Mentes aprisionadas a um estado de consciência mínima

A inconstância evidencia uma carência de habilidades para lidar com desafios. Trata-se de uma ausência de equilíbrio emocional, às vezes influenciada por culturas machistas e atrasadas que induzem ou conduzem indivíduos a menosprezar a responsabilidade espiritual e minimizar a importância da própria essência, corrompendo imperceptivelmente os sentidos nobres da alma e, por vezes, aprisionando-se nas penumbras da promiscuidade física e mental.

Essa duplicidade comportamental frenética, com muito movimento e pouca estabilidade para interação, com ausência de direção ou freios, leva a uma mente dupla, incapaz ou sem motivação para seguir instruções ou exercer controle próprio. Vivendo nesse estágio de baixa espiritualidade, marcado por frivolidades e banalidade, as pessoas não conseguem conferir estabilidade a suas atitudes, ideias, sentimentos ou ações, ficando sujeitas a mudanças frequentes, nem sempre com resultados saudáveis.

Falta a compreensão de que a alma é um ser real, individual, independente e autônomo, de natureza puramente espiritual, que tem por destino grandioso evoluir sempre, harmonicamente, adquirindo conhecimentos e virtudes que possam conduzir a níveis superiores de consciência e dignidade. As relações tornam-se descartáveis, rasas, e fugazes, sem a compreensão de que a viagem cósmica prosseguirá além desse plano, que nos oferece a oportunidade de alcançar níveis mais elevados, imprescindíveis para seguir a extraordinária viagem pela eternidade. Esse plano material é apenas uma rápida parada para reabastecer a alma com boas energias.

A inconstância comportamental realça um estado emocional que se sobrepõe à capacidade de lidar com questões rotineiras. Isso é altamente desgastante tanto mentalmente como fisicamente, e dificulta o foco na estabilidade e na valorização do eterno, em oposição às coisas banais e passageiras. Perde-se a noção do tempo, de sua importância  e do significado de desenvolvermos uma consciência dignificante.

Tudo passa, e passa depressa. O vacilante caminha pela inconstância numa realidade de letargia, sem estar dormindo nem desperto, apenas divagando por caminhos que não conduzem à ascensão pessoal. Passam como se jamais tivessem existido e possuído a capacidade para discernir. Desperdiçam o sagrado tempo descartando almas em trocas frequentes, evitando a interação espiritualmente íntima e, sobretudo, desprezando a individualidade e a identidade que todos carregamos em forma de “fôlego divino”, o qual será obrigatoriamente devolvido, puro ou impuro. 

Sem sinceridade, transparência ou autenticidade, não existem parâmetros para imposição do respeito incondicional à dignidade. As palavras bonitas só farão sentido quando forem materializadas em ações concretas, a partir da convicção pessoal.

Quando priorizamos religiões, distanciamo-nos da razão, aproximando-nos da ignorância, que molda as mentes à mesmice cotidiana e impede a evolução da consciência. 

De um lado há o imaginário, as teorias delirantes, frágeis e meramente especulativas sobre o pós-vida do plano material; de outro, há a realidade factual que efetivamente pode permitir a evolução pessoal ampla, livre das formatações impostas pela bolha sócio-cultural e religiosa na qual somos colocados ao nascermos. Somos formatados sem chance de desenvolver a capacidade de conceituação própria, condenados a transformar historietas fabulosas em verdades incontestáveis, a despeito do improvável da fantasia. Obedecemos a normas arcaicas, inconsistentes e surrealistas, que apenas servem para mascarar a hipocrisia generalizada numa postura tola que esconde quem realmente somos. 

Até quando a insensatez prevalecerá sobre a razoabilidade? Talvez até entendermos que a vida pode ser ilustrada como um círculo com um ponto ao centro: à medida que nos predispusermos a buscar conhecimento, ampliaremos o ângulo de visão desse ponto, privilegiando a interpretação de forma macro, livres da visão micro ou afunilada que contraria a natureza incomensurável do universo. O conhecimento tem o poder de iluminar os lugares mais escurecidos da mente, permitindo a compreensão da vida com um pouco mais de realismo, num mundo em que só o saber permite diferenciar o grau de evolução de uns e outros.

Não bastam títulos de conhecimento adquirido quando mentes amedrontadas por ensinamentos religiosos não ousam questionar o que lhes foi imposto na infância e não conseguem se livrar por acreditarem que estariam violando as tradições herdadas e as mirabolantes leis divinas, imaginadas por povos confusos, atrelados à ignorância milenar.

Cérebros em estado natural apresentam-se em condições de pobreza intelectual embrionária, formatados e bloqueados para a razão, refutando o conhecimento por se sentirem agredidos naquilo que entendem por “princípios” nos quais se estagnaram.

Desperdiçam o precioso tempo fazendo de conta que querem evoluir, ouvem sermões e os ensinamentos que consideram sagrados, por toda a vida, mas não compreendem o alcance, não conseguem formar opinião própria, tampouco conseguem colocar em prática. São eternos dependentes da inteligência alheia, da ignorância crônica, submissos como irracionais a viseiras colocadas por espertalhões e, mesmo que a realidade seja desenhada, a ignoram, no exercício do direito ao livre arbítrio, assegurado inclusive aos loucos, mas, catastrófico, quando não estão acompanhados do discernimento básico e dá vontade de alcançar a condição de compreender a realidade livres da confusão mental.

Em que estágio de consciência me encontro? É a indagação que nós todos, indistintamente, devemos nos fazer.

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